Em abril de 2002, profissionais da agência DPZ se reuniram no escritório do Rio de Janeiro para avaliar pesquisas sobre a evolução da marca De Olho no Combustível e discutir novos caminhos.
Diante dos resultados altamente positivos de imagem e aumento efetivo de vendas da BR, a concorrência decidira investir em seus próprios controles de qualidade – reservando grande parte dos recursos para publicidade. Pesquisas de imagem realizadas em 2001 confirmaram que a entrada da concorrência no ar comoditizou os programas de controle de qualidade da BR e da concorrência.

Os consumidores não sabiam mais distinguir nomes, atributos e diferenciais. Qual deveria ser o próximo passo na estratégia da marca?

A distribuidora da Petrobras

A Petrobras Distribuidora foi criada em 1970 com o objetivo de distribuir a gasolina produzida pela holding Petrobras que, até então, possuía o monopólio da exploração e refino de petróleo no Brasil.

Na ultima década, o mercado de derivados de petróleo começou a sofrer uma abertura gradual em todos os setores, inclusive na distribuição. Hoje, existem mais de 200 bandeiras atuando no país tornando o cenário cada vez mais competitivo.

A marca BR desfruta da posição de líder deste mercado com uma participação de 32,8%. (Fonte: Sindicom, 2004)

Um produto delicado

Vários os segmentos envolvidos na cadeia de transporte e distribuição que recebem, avaliam, estocam, manuseiam e expedem o produto da refinaria até o consumidor final.

Não é só por serem inflamáveis que os combustíveis merecem especial atenção. Em todas essas etapas há a possibilidade da qualidade ser alterada por vários motivos, tais como: acidentes, falhas ou mal funcionamento de equipamentos e instalações, desatenção, falhas em procedimentos etc.

Para isto ser evitado, a Petrobras dispõe de instalações adequadas, terminais marinhos, terrestres, procedimentos padronizados e meios de avaliação e controle para transportar, armazenar e manusear os produtos.

A partir das refinarias, as Cias Distribuidoras, os TRR (Transportador Revendedor Retalhista) e os Postos Revendedores são responsáveis pela qualidade do produto.

O Posto Revendedor, último intermediário, tem que seguir processos de-fini-dos para garantir a qualidade do produto. No recebimento do caminhão-tanque deve-se coletar amostras e realizar alguns ensaios. Os resultados devem ser comparados com os valores informados na nota fiscal e com a especificação legal. No armazenamento, logo após o recebimento, o produto deve ficar em decantação para que água e borra eventualmente recebida ou contida no tanque vá para o fundo e possa ser drenada.

Estes mesmos procedimentos devem ser adotados para avaliação da qualidade do produto enquanto armazenado, principalmente quando o tempo for muito grande.

De olho na qualidade

A Petrobras desenvolveu e mantém um Sistema de Garantia de Qualidade de Combustíveis, visando assegurar que os produtos que chegam ao consumidor final apresentem a mesma qualidade com a qual foram produzidos. Todos os participantes da cadeia de distribuição recebem treinamentos específicos sobre as técnicas operacionais de manuseio e armazenamento de derivados de petróleo.

Com a abertura do mercado e o fim do tabelamento de preços dos combustíveis, a atividade de distribuição de combustíveis no Brasil começou a viver momentos de intensa concorrência. A guerra de preços levou alguns revendedores a comprarem, de forma consciente, combustíveis adulterados que passaram a ser vendidos, ao consumidor final por preços abaixo do custo.

Os revendedores fiéis às suas distribuidoras começaram a perder competitividade e, conseqüentemente, vendas. Os consumidores passaram a temer prejuízos decorrentes de combustível adulterado, sem distinção de bandeira.












Banner presente nos Postos certificados.

Apesar do problema afetar todas as distribuidoras tradicionais do mercado, a BR foi a primeira a agir diante desta situação lançando, em 1996, o seu programa de controle de qualidade: o De Olho no Combustível. Comprovando a qualidade do combustível Petrobras, a BR sensibilizaria tanto o consumidor final, mostrando o problema da adulteração e seus prejuízos, como o revendedor, estimulando os parceiros fiéis e promovendo novas adesões.

Certificação

O Programa de Qualidade "De Olho no Combustível" inclui 11 requisitos para a certificação dos Postos de serviços Petrobras, incluindo o treinamento dos responsáveis pelos serviços de armazenagem e recebimento do combustível, devolução de produtos, além da limpeza de tanques e filtros.

Estes requisitos são:
  • Possuir kit completo para testes dos produtos;
  • Estar com todos os produtos especificados, conforme padrões da ANP;
  • Não possuir quantidade superior a 3 litros de água em cada um dos tanques;
  • Comprovar os testes realizados no recebimento do CT;
  • Apresentar todos os filtros limpos e funcionando perfeitamente;
  • Possuir Bomba de Drenagem funcionando;
  • Apresentar as três últimas notas fiscais de álcool, diesel e gasolina comercializados;
  • Não ter expostos lubrificantes de outras Cias;
  • Apresentar as tampas dos tanques bem fechadas, identificadas e com anel de vedação;
  • Comprovar drenagens feitas através do Relatório Registro de Drenagens;
  • Demonstrar o atendimento à Portaria ANP nº 248, de 31 de outubro de 2000.














Técnicos retiram amostra do tanque.

São certificados os Postos que, após várias visitas do laboratório móvel, mantêm o padrão necessário para a certificação que garante que o produto que sai das bases de distribuição da Petrobras chegue inalterado ao veículo do consumidor.

O Programa De Olho no Combustível cobre todo o território brasileiro e a lista de Postos pode ser obtida através do SAC ou pela internet.

3747 estavam certificados em junho de 2004.

Operação

O Programa De Olho no Combustível percorre os Postos Petrobras com Laboratórios Móveis de Qualidade, realizando análises de combustíveis em campo e capacitando os responsáveis pela comercialização dos produtos, quanto ao recebimento, manuseio e armazenagem dos combustíveis.



A BR dispõe de Laboratórios Móveis da Qualidade (LMQ), equipados com materiais de análise para a realização de testes em campo. Esses veículos são conduzidos por técnicos que realizam, em média, 2 visitas por dia.



Os Laboratórios Itinerantes da Qualidade (LIQ) são programados para permanecer em cada Posto certificado por cerca de 15 dias. Estes laboratórios são operados por técnicos treinados e têm como objetivo de orientar o consumidor e esclarecer dúvidas referentes à qualidade dos combustíveis.


Laboratório para Grandes Eventos (LGE), por ser equipado também com recursos audio-visuais, tem como principal missão a divulgação do "De Olho no Combustível" nas feiras e eventos que tratam de qualidade de combustível. Sua agenda atende preferencialmente o Rio de Janeiro e São Paulo.


A programação da fiscalização não é comunicada ao Posto, podendo acontecer a qualquer momento. Qualquer desvio nos padrões estabelecidos pode implicar na perda do certificado.

Para a realização de análises adicionais, amostras são enviadas ao Centro de Pesquisas da Petrobras - CENPES, que estão equipados com modernos recursos técnicos mundiais para uma descrição mais completa da qualidade do produto.

Uma nova campanha publicitária

Atendendo à demanda do mercado (e de olho no sucesso da Petrobras) programas de controle de qualidade de combustíveis foram criados e destacados nas companhas publicitárias da concorrência.

A tabela a seguir demonstra que em 2001 todas as distribuidoras tradicionais divulgaram seus programas de qualidade na mídia. Nos anos anteriores, a BR reinava sozinha.

Investimento em mídia: BR x concorrentes (Fonte: Monitor Ibope):

Mesmo permanecendo Top of Mind em importantes mercados, a Petrobras estava perdendo espaço na mente dos consumidores e um importante diferencial competitivo.

A BR e a DPZ imaginaram que uma ação publicitária tradicional talvez não fosse suficiente para recuperar os níveis de recall desta marca.

Além de uma campanha impactante e criativa, seria necessário inovar o próprio conceito do serviço, tornando-o mais tangível e oferecendo um diferencial relevante para o consumidor.

A primeira idéia

A primeira sugestão partiu da BR. Já que o slogan do Programa era “Qualidade garantida”, a BR ofereceria um serviço de guincho e reparo para os consumidores que abastecessem em Postos certificados e tivesse problemas com combustível adulterado. Bastaria ligar gratuitamente para o SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor), aguardar o reboque e apresentar a nota fiscal da compra.

Só mais tarde seria feita a análise do combustível, mas possíveis fraudes por parte de consumidores de outras bandeiras que por ventura tenham comprado combustível adulterado não foram a primeira preocupação da BR. O desejo de oferecer um diferencial inédito e o potencial de comunicação contido neste projeto tornavam pequenas fraudes irrelevantes. (E quem sabe até um fator de atração a mais para a marca?)

De fato, segundo o artigo 26 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor (Lei 8.078 - 11/9/90), o consumidor tem até 30 dias para reclamar a respeito da compra de produtos não duráveis, incluindo combustíveis, lubrificantes e derivados. Porém poucos consumidores lesados procuram os órgãos de defesa para encaminhar queixas.

A agência apresentou uma campanha que comparava os combustíveis a produtos de consumo duráveis que já vêm de fábrica com garantia, como TVs, liquidificadores, geladeiras etc.

No entanto a BR não chegou a um acordo financeiro com as companhias de seguro, inviabilizando o projeto.

Campanha Onda Amarela

De volta à prancheta, a equipe da DPZ se reuniu com a Hartmann, uma empresa de promoções, para analisar pesquisas e pensar conjuntamente possíveis conceitos de comunicação e inovações que poderiam ser agregadas ao produto.

Pesquisas indicavam que o motorista, apesar de não desacreditar nos programas oferecidos pela BR e pela concorrência, queixava-se de nunca ter testemunhado o momento da fiscalização ou nunca ter visto um dos laboratórios móveis (carros com mini-laboratórios que fazem a ronda nos Postos) tão badalados na publicidade.

Quando fariam a fiscalização? Com que freqüência? Como saber?
Era preciso dar visibilidade aos momentos de fiscalização do De Olho no Combustível, gerar credibilidade ao Programa criando um real diferencial de serviço.

Mas como dar visibilidade à fiscalização quando a BR dispunha de poucos laboratórios móveis e como fazer o cliente acreditar que o Posto estava sendo realmente fiscalizado?

Para responder estas perguntas, foi criado o projeto Onda Amarela cuja promessa era: a BR visitaria todos os Postos certificados pelo Programa De Olho no Combustível todos os dias.


Motos equipadas com material de coleta de combustível e dirigidas por promotores treinados percorreriam todos os Postos para recolher amostras do produto que eram enviadas, posteriormente, para o Centro de Pesquisas da Petrobras - CENPES.

Além das motos, caminhões e carros dariam apoio à operação. Mais do que apoio logístico, estes veículos serviriam como autênticos “veículos de mídia”, espalhando o conceito da marca pela cidade - e provando que “Qualidade garantida todo dia” não era só mais um slogan publicitário.


Como disse a agência, se a partir de qualquer “Ponto de Contato” do serviço o cliente obtém uma impressão da qualidade, então a comunicação deve ser encarada como parte integrante dele, agregando “Momentos da Verdade” que satisfaçam motoristas e aumentem o valor da marca BR. O “Ciclo de Serviço” da BR não deve começar e acabar no Posto – e sim permanecer ativo enquanto houver combustível no tanque do carro, oferecendo um pacote “desempenho + tranqüilidade” ao consumidor.

O projeto foi aprovado e, em outubro de 2002, as motos foram para ruas e a BR voltou à mídia de massa.

Colocando em prática

A programação visual das motos e Agentes privilegiou o “amarelo BR”, visando destacar ao máximo cada unidade e a marca do Programa.

O primeiro desafio foi treinar os “Agentes De Olho” e adequar as motos às rígidas normas de transporte de combustível. Era necessário efetuar este transporte com a máxima segurança, qualquer descuido ou acidente poderia colocar todo o projeto a perder.

Agente De Olho recolhe amostra de combustível.

A presença do Agente próximo ao consumidor seria mais importante do que a rapidez e eficiência do processo de coleta. Mais do que tudo, era preciso passar a percepção de idoneidade, limpeza e segurança. Se um cliente pedisse explicações sobre o Programa, ele poderia e deveria ficar o tempo que fosse necessário no Posto.

Assim que ficaram prontas, todas as motos foram deslocados para a produção do comercial, que ocorreu na cidade de São Paulo. Tudo teria que ser feito em uma diária de filmagens e sem falhas, pois as motos e caminhões precisavam se deslocar logo para suas bases.

Agentes De Olho e caminhão-garagem.

Durante a campanha, às 8h00 as motos saíam de dentro de caminhões-garagem que foram adesivados com o tema da campanha e ficavam estacionados nos Postos durante a noite para aumentar a visibilidade do Programa. Em seguida seguiam em comboio durante um determinado período de tempo por pontos movimentados das cidades e depois cada uma pegava sua rota estabelecida. Nos finais de semana as rotas dos comboios eram alteradas para passar por áreas de lazer, com grande concentração da população.

Cada promotor, chamado publicitariamente de “Agente De Olho”, visitava os Postos da sua rota e recolhia amostras da gasolina para análise. Ao final do dia as motos retomavam ao caminhão, onde as amostras eram coletadas por técnicos da BR.

Área e período de atuação

A ação ocorreu entre outubro a novembre de 2002, em mercados definidos pela BR com base em sua estratégia de vendas (Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas e Brasília) com a seguinte estrutura:

A ação foi realizada em todos os municípios atingidos pelo comercial de TV, para evitar queixas em relação à principal promessa da campanha.

Mídia

TV: alta cobertura e impacto.
Para o lançamento, um comercial de 1 minuto dramatizava a operação, mostrando as motos deixando o caminhão-garagem ao amanhecer e invadindo a cidade como uma grande “onda amarela”. Agentes De Olho recolhem amostras de combustível nos Postos, que são analisadas por cientistas da Petrobras. Uma adaptação de 30 segundos sustentou a campanha.



Locutor em off: “Está surgindo o mais ambicioso Programa de qualidade de combustíveis já feito no Brasil. É a nova fase do Programa De Olho no Combustível, cada vez mais de olho na qualidade. Todos os dias, centenas de inspetores da Petrobras saem às ruas para visitar todos os Postos do Programa e retirar amostras de combustíveis para serem testadas. Controlar a qualidade dos combustíveis todos os dias em todo o Brasil. Um com-promisso que só a Petrobras poderia assumir. Abasteça somente nos Postos com a marca De Olho no Combustível. Só eles são fiscalizados todos os dias. Programa de Olho no Combustível. Qualidade garantida todo dia."

Rádio: segmentação de público, mais cobertura e aumento de frêqüencia.
Além de spots de rádio alinhados com o conceito do filme, informativos aéreos narravam, ao vivo, o momento em que as motos saiam do caminhão de manhã cedo, gerando credibilidade e repercussão.

Marca e ponto de venda: o momento da compra.
A marca foi modernizada, sinalizando a evolução do Programa. Banners foram posicionados em locais de destaque para atrair a atenção dos motoristas. Frentistas utilizararam coletes com a marca.


Resultados

Pesquisas realizadas após a campanha mediram o impacto da ação.

Logo abaixo podemos ver a evolução dos índices para a pergunta “Qual a distribuidora com melhor qualidade de combustível?

Rio de Janeiro

São Paulo

Campinas
Fonte: Pesquisa quantitativa por amostragem através de entrevistas pessoais, com automobilistas responsáveis pelo abastecimento do veículo em São Paulo, Rio de Janeiro, e Campinas. Instituto Focus, dezembro de 2002. Valores em percentual; base: 400

Antes de receber estes dados, a Petrobras e a DPZ já tinham uma idéia dos resultados: mais de 300 revendedores que se submeteram à fiscalização escreveram cartas solicitando a continuação do Programa por ter trazido grande credibilidade a seus Postos.

Como a Distribuidora que oferece o melhor combustível, a BR manteve o 1º lugar e cresceu no Rio de Janeiro (bem distante das outras distribuidoras), crescendo em São Paulo (cada vez mais próxima da Shell, mantendo o 2º lugar) e reverteu a posição em Campinas, passando a 1º lugar.

A marca BR é lider de recall em todas cidades, com um grande crescimento em relação à ultima campanha, veiculada em novembro de 2001. Praticamente todos os automobilistas que lembram de ter visto ou ouvido – acima de 50% em todas as cidades – as citam corretamente, com grande destaque para as citações sobre as “motos amarelas”.

A publicidade é o grande meio de divulgação do Programa, sendo citada por mais de 80% dos automobilistas como a forma pela qual tomaram conhecimento do mesmo. A televisão, dentre os meios de comunicação, foi a mais citada e, em seguida, o rádio.

Conclusões

Podemos concluir que o público passou a ter maior conhecimento e confiança na marca.

Ao criar um diferencial para o Programa De Olho no Combustível, BR conseguiu tirá-lo da paisagem, levando para o consumidor o que ele espera de um programa de qualidade e destacando-o da concorrência.

A apresentação de um fato real - a fiscalização - de forma grandiosa gerou impacto e alta lembrança, o que melhorou a percepção da seriedade do Programa, para consumidores e revendedores.

Apesar de não perceberem a promessa de fiscalização todos os dias (o que seria feito por dois meses, a duração da campanha), os consumidores se convenceram quanto à eficiência da fiscalização da BR, gerando credibilidade, confiança e resultados mais do que desejados.

Como lembrou um cliente, “Quem pede para ser fiscalizado não tem nada a temer”.